11.10.06

As Torres Gêmeas

Cinco anos: até que demorou pra Hollywood começar a fazer filmes-castástrofe sobre o ataque de 11 de setembro de 2001. Neste ano já foi lançado o Vôo 93, sobre um dos aviões atacados. As Torres Gêmeas (World Trade Center), dirigido por Oliver Stone, conta a história de dois policiais que foram soterrados em um dos desabamentos.

O filme começa bem. Com cara de documentário, vai mostrando cenas de Nova York ao amanhecer. Metrô, ruas ainda vazias e pontos turísticos, como a Estátua da Liberdade ou o World Trade Center mostrando sua magnitude ao fundo de um plano geral imenso. A calmaria antes da tempestade, anunciada quando o letreiro finalmente exibe “Nova York, 11 de setembro de 2001”. Então somos levados para o Departamento da Polícia Portuária de Nova York. A cena em que os policiais são designados para suas tarefas parece existir somente para mostrar o quanto aquela cidade é acolhedora. Os policiais nomeados nesse começo de filme parecem todos vindos de países latinos e Europa Oriental. Um deles é o oficial William J. Jimeno (Michael Peña), que vai contracenar Nicolas Cage. Este é o tenente McLoughlin, o americano comum.

O trunfo do filme é o período em que os dois policiais ficam embaixo dos escombros. A montagem alterna entre os policiais, suas famílias e as equipes de resgate, que não sabem onde estão. Maggie Gyllenhaal interpreta Allison, a esposa do oficial Jimeno. Realiza bem cenas morbidamente constrangedoras, da espera por notícias do marido – ou de sua morte. Mas a família McLoughlin, encabeçada por Donna (Maria Bello) é prejudicada por exageros do roteiro, beirando o sentimentalismo. Por outro lado, as cenas com os policiais são ótimas. Antes quase desconhecidos, tornam-se amigos sob o medo da morte, de nunca mais rever as famílias.

Durante algumas seqüências, fica a dúvida: este drama precisaria mesmo ser no World Trade Center? Apesar das belas seqüências do começo, o fato do desastre pessoal de Jimeno e McLoughlin acontecer no WTC acaba por prejudicar a tensão claustrofóbica criada por Stone. Parece ter sido uma decisão pelo sempre chamativo “Baseado em fatos reais”, ainda mais em algo tão recente.

Algumas cenas alheias ao drama particular dos policiais são exibidas, apesar de inúteis. Pessoas de todo o mundo assistindo às transmissões dos atentados e declarações de George Bush e do ministro da defesa Donald Rumsfeld. Todas elas são estéreis, sem um posicionamento claro. Nem uma abertura interpretativa à la Gus van Sant nem parcialidade escancarada como o Falcão Negro em Perigo, de Ridley Scott. Oliver Stone parece titubear, sem saber o que (pode) dizer.

Escancarado é o sentimentalismo e a supervalorização dos personagens envolvidos no atentado. Como não poderia deixar de faltar, várias cenas exaltam os “heróis americanos”. Por exemplo, quem descobre os policiais nos escombros é um ex-militar religioso (deus e guerra, tudo que o americano gosta), que se infiltra na região dos atentados por puro altruísmo. No final das contas o filme é uma diversão razoável, com alguns bons momentos. Mas não se esqueça de locar Fahrenheit 11/9 no caminho de casa. Certo ou não, Michael Moore soube ser enfático, algo do qual Stone passou longe…

* crítica originalmente publicada em Petshop - a sua ração cultural

Lovecraft

E se as criaturas criadas por Howard Phillips Lovecraft nos contos que mais tarde seriam categorizados por August Derleth como os Mitos de Cthulhu fossem reais? O romance gráfico Lovecraft propõe que o escritor foi perseguido por algumas de “suas” criaturas e os cultistas destas, incomodados pela publicação de seus trabalhos.

H. P. Lovecraft foi um contista de horror do início do século XX. Em seus escritos, a humanidade é irrelevante para o universo. Nos contos da fase chamada Mitos de Cthulhu, foi criada uma mitologia própria: além das divindades ‘verdadeiras’, existiriam algumas criaturas na Terra, os Grandes Antigos, tão poderosos que chegam a ser cultuados como deuses. Antes da humanidade florescer, esses monstros foram banidos e esperam uma oportunidade de reinar novamente. O Necronomicon, um livro mágico maldito, seria a chave para abrir o portal. A premissa da revista é de que este livro realmente existiu, e Lovecraft o recebeu como “herança”.

Adaptado por Keith Giffen, o roteiro de Hans Rodionoff é uma homenagem fundamentada. Fica claro que foi baseado em um amplo trabalho de pesquisa. São identificáveis referências históricas e minúcias biográficas, além da inevitável referência a estruturas narrativas lovecraftianas recorrentes. A introdução escrita pelo cineasta John Carpenter deixa clara a importância do escritor para grandes nomes do horror, como Stephen King e Clive Barker. O próprio Carpenter já homenageou Lovecraft com a premissa e o título original de À Beira da Loucura (em inglês The Mouth of Madness, referência a At The Mountain of Madness).

O horror cósmico criado por H. P. Lovecraft é um desafio para quem queira construir uma representação visual, principalmente se for estática, como no caso dos quadrinhos. Lovecraft construía suas criaturas sempre em termos de inadequação ao mundo e à compreensão humana. A vagueza de descrição era intencional, pois o narrador protagonista não tinha parâmetros de comparação para o “inominável”. O desenhista argentino Enrique Breccia faz um bom trabalho. Seu estilo não é realista, por isso mesmo atinge o objetivo. Os monstros aparecem de forma explícita, apesar disso não ficam banais. Talvez o resultado fosse ainda melhor se o uso de penumbras fosse mais freqüente, mas nada que comprometa a obra.

Alguns detalhes são deleites para os fãs. O desprezo de Lovecraft por seu conto Herbert West: O Reanimador, encomendado pela revista Weird Tales, é mostrado numa conversa com o editor da revista pulp, Edwin Baird. Como não poderia faltar, alguns dos escritores colaboradores de Lovecraft (mais tarde conhecidos como o “círculo lovecraftiano”) aparecem, como Frank Belknap Long e Robert E. Howard. E talvez a melhor das miudezas seja o encontro com o ilusionista Houdini, para quem trabalharia como ghost writer do conto Aprisionado com os Faraós. Atenção também para o papel de Edgar Allan Poe como ídolo e influência para Lovecraft. Apropriadamente uma citação de Poe abre a revista.

Mesmo quem sequer ouviu falar em Lovecraft pode apreciar a revista. Em passagens mais obscuras, notas de rodapé esclarecem o leitor. Se o neófito em Lovecraft não vai sorrir como o fã para cada referência, aos borbotões por página, ao menos vai ser despertado para um autor tão rico, embora ainda sem a fama merecida, setenta anos depois da morte.

* crítica originalmente publicada em Petshop - a sua ração cultural

Assombração

“Mistura de Alice no País das Maravilhas, Mirror Mask, A Viagem de Chihiro, Silent Hill e horror japonês contemporâneo”: estranha, porém apropriada, definição de um usuário de um fórum de cinema, ao comentar o trailer de Assombração (Gwai Wik), incomum filme tailandês dirigido pelos irmãos Oxide e Danny Pang.

Uma descrição verbal realmente necessitaria dessas comparações. O que me chamou atenção ao filme foi o cartaz: mostra no centro de um campo a protagonista; na base um pesadelo a la Romero, com centenas de “zumbis” em aparente perseguição à figura do centro e o nome do filme (com uma fonte cretina e recorrente da PlayArte, diga-se de passagem); e no topo do cartaz montanhas se desfazem, com os topos levitando... É uma boa metáfora visual para a estrutura do filme, que parece se dividir em três blocos. O primeiro bloco é um horror oriental, o segundo é fantasia de horror e o terceiro um drama que lembra, visual e tematicamente, Sonhos (Yume), de Akira Kurosawa.

Durante os vinte minutos iniciais, somos apresentados à trama – uma escritora, Ting-Yin, em crise criativa e amorosa – e a um horror psicológico oriental tal com os últimos exportados: O Grito, O Chamado etc. Ligações telefônicas misteriosas, televisores que ligam sozinhos, água escorrendo da banheira, vultos com cabelo de metaleiro. Enfim, todos os clichês daquele subgênero. Essa primeira parte do filme parece mais um ensaio. Os diretores usam um recurso já saturado – se é que algum dia foi eficaz, de sincronizar os cortes de planos com sobressaltos da trilha sonora, falsificando (supostos) sustos, sem motivação verdadeira. Exceto por um momento realmente assustador, a tensão é um pouco forjada.
Aos poucos Ting-Yin vai descobrindo que os estranhos acontecimentos têm algo a ver com a produção de seu novo livro de horror. Numa relação de dupla influência, as aparições vão ficando mais freqüentes à medida que Ting-Yin escreve inspirada pelo próprio medo. Superada a crise de escritor, Ting-Yin sai do apartamento (essa seqüência é assustadora de verdade), e descobre que está em outro “mundo”: um cenário desolado, pós-apocalíptico. Corpos começam a cair do céu e três espectros perseguem a protagonista, que parte numa fuga para descobrir o que está acontecendo.

A partir daí, entre sustos e fugas, o deslumbramento pelas composições visuais supera o estranhamento e confusão. Os cenários pelos quais a escritora passa são todos metáforas sobre o abandono: uma floresta de enforcados, montanhas de brinquedos rejeitados e um cemitério de mortos esquecidos, entremeados por cenas naturais que aumentam o contraste entre realidade e fantasia.

Apesar de dar algumas pistas durante a jornada de Ting-Yin, a lógica que rege esse “mundo” fantástico só é revelada nos últimos minutos do filme. Foi uma decisão acertada dos diretores, apesar do risco de que os mais puristas – e apressados - abandonem a sala antes do final da sessão. Mas esse clímax, apesar de reconciliar os altos e baixos do filme, cansa o espectador com explicações demais minuciosas. Isoladamente não seria um defeito, uma vez que, como já disse, serve pra dar a coesão que faltava para o filme. Mas ao ser confrontado com o final, parece longo demais, mas nada que comprometa o resultado final. Não é um filme a ser descartado.
* crítica originalmente publicada em Petshop - a sua ração cultural

Manderlay

Dogville foi um filme único. Lançado em 2002, surpreendia tanto pela forma quanto pelo conteúdo. Filmado quase sem cenários, as construções são demarcadas por linhas no chão. Até o cachorro, que latia, era representado por um desenho e a palavra “Dog”. Lembro-me de um crítico, Cláudio Marques, que escreveu o seguinte: “Fico pensando em alguém desavisado que entra em Dogville para ver Nicole Kidman…”

Totalmente atípico, Dogville, em suas 3 horas de duração, abria a trilogia intitulada por Lars von Trier, de “USA - Land of Opportunities”. Tristemente resumindo, o filme contava a história de Grace que, fugindo de gângsteres, encontra a cidadezinha de Dogville, nos Estados Unidos. Ajudado por um de seus habitantes, que encantou-se com ela, Grace oferece pequenos serviços para ser aceita na comunidade. À medida que os habitantes de Dogville percebem o poder que têm sobre ela, a fugitiva vai sendo transformada em escrava.

Dogville abria um leque de possibilidades de interpretação enorme. Ataque aos EUA e sua política internacional, estudo sobre a maldade nata do ser humano, ou até uma fábula inspirada em elementos bíblicos. A segunda parte da trilogia, Manderlay, foi recebida com enorme expectativa. Poderia Lars von Trier criar algo ao menos à altura daquela verdadeira obra-prima do cinema?

Grace, agora interpretada por Bryce Dallas Howard, depois de tirar Dogville do mundo encontra a cidade de Manderlay, e descobre que a escravidão persiste setenta anos após a abolição oficial da escravatura. Quando eliminou Dogville, Grace disse que “Se há alguma cidade sem a qual o mundo poderia ser um lugar melhor, é esta.” Com metade do poder de seu pai (Willem Dafoe, no lugar de James Caan) em mãos, Grace tenta “libertar” os escravos de Manderlay e criar uma democracia ali.

O filme não é nada politicamente correto ao lidar com dois assuntos delicados. A política, ao tratar de democracia e autoritarismo, e de relações “raciais” e escravidão. Grace, com ajuda de seus gângsteres, abole a escravidão e obriga os antigos senhores de Manderlay a trabalharem junto com seus ex-escravos na plantação, em um sistema de cooperação comunitária. À medida que o tempo passa, o idealismo de Grace é posto em cheque, uma vez que os escravos cumpriam suas tarefas sempre motivados por ordens superiores, e nesse novo sistema, aparentemente democrático, tudo deve ser levado a votação.

Lars von Trier não tem medo das palavras. Muitos críticos condenaram o filme por ele não se ater a um ponto de vista coerente por todo o tempo. Antes de ser um defeito, vejo como uma qualidade, uma vez que essa aparente incoerência retrata fielmente a ordem das coisas. Tudo é relativo. O autoritarismo é injusto, sim. Mas não seria melhor estar sujeito à ordem de uma única força superior, do que constantemente estar num jogo de forças com centenas de semelhantes? Essas diferentes idéias, entre outras, são representadas por diferentes personagens, e pelas mudanças de atitude de Grace durante o filme.

Um interessante recurso que von Trier utiliza para mostrar os efeitos da opressão são as sete “categorias psicológicas” dos negros, encontradas no livro intitulado “Lei da Senhora”, que era como que uma constituição aplicada aos escravos, antes da chegada de Grace. A divisão arbitrária criada pela mente doentia da antiga senhora, interpretada por Lauren Bacall, além de ser chave para o desfecho do filme, separa os escravos em grupos que se comportam de forma diferente em relação à liberdade ou a escravidão. Uma dessas categorias, a de “Negro Falante”, tem como representante Wilhelm (Danny Glover) que, junto a Grace, serve como porta-voz dos diferentes modos de concepção da sociedade apresentados em Manderlay.

Quanto as substituições de Nicole Kidman e James Caan, posso dizer que não fazem falta. Bryce Dallas Howard se adequa mais à Grace de Manderlay, não mais tão inocente quanto a Grace do primeiro filme. James Caan era uma figura mais imponente, mas Willem Dafoe consegue substituí-lo, uma vez que no segundo filme, ele é somente um chefe gângster, e não a possível representação de Deus, como alguns o viram no primeiro filme.

O cenário, ou melhor, o palco é maior dessa vez. As “construções”, maiores, são mais elaboradas, como a mansão dos senhores. A luz, tal como em Dogville, tem função narrativa e é muito bem explorada. Nesse filme não temos neve pra compor uma cena tão linda quanto aquela em que Grace arrastava sua corrente pela neve, mas temos uma tempestade de areia que arrasa a cidade.

Comparado a Dogville, o grande “pecado” de Manderlay é particularizar demais, restringindo dessa forma a interpretação do filme ao caráter político, de protesto contra os EUA, quando poderia ser uma análise do ser humano, tal como foi o primeiro filme. Mas, em seu objetivo, Lars von Trier foi extremamente enfático. O final do filme, que não contarei, não se preocupem, já aponta para o terceiro filme, Wasington (sem o H mesmo). Os créditos, como em Dogville, mostram cenas análogas ao filme, no caso fotografias de negros em condições sub-humanas, sendo agredidos, ou da organização racista Ku Klux Klan, e outras surpresas mais “atuais”.

O filme não consegue superar Dogville, tanto pelo choque causado visualmente, quanto pelo caráter universal do primeiro filme. Mas é quase tão formidável quanto o primeiro, e amplia a expectativa para Wasington que, desde o nome, promete ser mais agressivo.

* crítica originalmente publicada em Petshop - a sua ração cultural

Nicotina

O filme mexicano Nicotina é de 2003 mas, como é de práxis com cinema não estadunidense, chega com enorme atraso às locadoras brasileiras, após uma breve passagem pelos cinemas. Deixemos as distribuidoras de lado e vamos ao filme.

Antes de tudo, por que o título Nicotina? Além da maioria dos personagens fumarem, acontece uma hilária discussão entre Nene e Tomsom sobre o cigarro. Nene, fumante, diz que não adianta parar de fumar, porque o que quer que aconteça é obra do destino, mesmo o câncer. Tomsom tenta demove-lo da idéia, mas o desenrolar do filme vai mostrar quem estava realmente certo...

Claramente inspirado pelo estilo de Quentin Tarantino, Guy Ritchie e do conterrâneo Alejandro Gonzalez Iñarritu (diretor de Amores Brutos), o filme tem como protagonista o caos. Pequenas coincidências que vão desencadear grandes reviravoltas e tragédias. Interpretado por Diego Luna (Terminal, E sua Mãe Também), um hacker voyeur, obcecado pela vizinha, chamado Lolo, consegue as senhas de um banco suíço. Intermediado por outros dois criminosos (Nene e Tomsom), Lolo pretende trocar o CD contendo as senhas por diamantes de um mafioso russo. Mas, quando chega no local da negociação, percebe que o CD verdadeiro fora destruído pela vizinha enfurecida quando descobriu que era filmada por Lolo. O CD que tinha em mãos continha apenas vídeos de Andréa, sua vizinha. Esse engano desencadeia uma série de mal-entendidos que dão corpo ao filme.

Influência de Guy Ritchie, corrida por diamantes e coincidências insólitas podem lembrar Snatch, Porcos e Diamantes, não é? Mas o filme não pretende, ao contrário do que apontaram alguns críticos, ser uma cópia do filme inglês. O diretor Hugo Rodriguez consegue impor um ritmo próprio a seu filme. Divisões de tela para mostrar mais de uma ação ao mesmo tempo são usadas corretamente. Um recurso utilizado para dar maior ênfase a pequenos detalhes também é bem interessante: desfocalizar o resto da tela, enquanto em um quadrado nítido é recortado algo ou alguém, à primeira vista imperceptível, mas que vai ser importante.

Além disso, o humor é mais negro e ácido. À medida que alguns personagens saem da trama, outros surgem atrás do diamante. Essa velha fórmula de personagens bastante definidos e estereotipados em busca de algo em comum, no caso os diamantes, funciona bem em Nicotina. Mesmo sendo a montagem aceleradíssima, há tempo suficiente para apreciar algumas relações, como a amizade entre Nene e Tomsom, e o amor obsessivo de Lolo por sua vizinha Andrea.

Enfim, a proposta do filme não é revolucionar o cinema. Suas 1:33 de duração (tanto fílmica quanto real) são bem aproveitadas, o que já é um mérito no cinema assumidamente de “entretenimento” atual. O pressuposto da teoria do caos, implícito naquele diálogo entre Nene e Tomsom de que “pequenas alterações geram grandes resultados”, tão em voga no cinema hoje em dia (Efeito Borboleta, Donnie Darko) é mostrado de forma eloqüente e divertida no filme mexicano.
* crítica originalmente publicada em Petshop - a sua ração cultural