22.6.06

I'll bet you five you're not alive/If you don't know his name


Orson Welles, antes de ser cineasta foi radialista. Seus filmes exibem traços, características radiofônicas. Por exemplo, no começo de Cidadão Kane é exibido um cine-jornal, o qual impressiona pela voz do locutor, evidentemente de entonação evidentemente radiofônica. Cidadão Kane é considerado também um exemplo único da integração entre som e imagem. Sua experiência em teatro também foi decisiva para o sucesso de seus filmes e o seu próprio. Afinal, na década de 1940 estava no auge o cinema de produtor em Hollywood, no qual o produtor era quem dava a palavra final, sempre em busca de lucro fácil. Conseguir aos 24 anos carta branca para acumular funções e fazer o filme a seu modo não era nada comum.
Cidadão Kane foi sua obra-prima em duplo sentido. Tanto foi seu primeiro longa cronologicamente, quanto seu melhor filme. Seus filmes mais famosos, além deste; A Dama de Shangai; A marca da Maldade; e O Terceiro Homem. Welles herdou do teatro a paixão por Shakespeare, dirigindo filmes baseados em obras do dramaturgo inglês: Macbeth, Othelo e Falstaff. De Franz Kafka gravou O Processo.
Cidadão Kane é considerado o ponto de partida do cinema contemporâneo: em um único filme Orson Welles introduziu vários padrões estéticos, narrativos e técnicos que iriam configurar o cinema a partir de então.
A narrativa, antes de Cidadão Kane, seguia o padrão: apresentação dos personagens; desenrolar dos acontecimentos; clímax; e finalmente, fechando o longa, o desenlace. A ação era um crescendum até o clímax e depois, com a resolução dos acontecimentos finalizava-se o filme. Segue-se uma ordem cronológica. Então a obra-prima de Welles derrubou esse esquema. Construindo a história de Charles Foster Kane a partir de flash-backs não-cronológicos, recurso usado para os fins da fábula e não somente por exibicionismo, Welles criou um tipo de estrutura narrativa que seria indispensável pra grandes obras-primas de outros realizadores, tais como: O grande golpe, de Stanley Kubrick; Cães de Aluguel, de Tarantino, entre outros, até a total subversão da narrativa clássica, a exemplo dos recentes Amnésia, de Christopher Nolan e o genial Irreversível de Gaspar Noé.
Tal como foi dito acima, o filme também preza pela enorme integração entre som e imagem. Em 1927, o cinema ganhou o som. O expressionismo e o surrealismo tiveram seu auge no cinema mudo. Outros grandes cineastas também eram eficientes por transmitir o significado através da imagem. Com o advento do som boa parte da significação do cinema foi sendo transferida da imagem para o som, de certa forma empobrecendo sua linguagem. Cidadão Kane foi o primeiro grande filme a pôr som e imagem em um processo de significação interdependente.
E a introdução da profundidade de campo deu ao cineasta a possibilidade de significar através da disposição dos objetos em cena, ao invés de significar somente pela montagem. Em relação à clássica cena do suicídio fracassado em Cidadão Kane muitos afirmam que ela não seria possível, ou pelo menos não naquela magnitude, sem a profundidade de campo. Welles também utiliza esse avanço técnico para simbolizar o distanciamento entre o casal na mansão. Em um plano a mulher de Kane está próxima à câmera, enquanto Kane está a vinte metros de distância, no mesmo salão. Tal simbolismo não seria possível sem a profundidade de campo.
Passados mais de 60 anos da produção do filme, sua linguagem permanece impressionantemente atual. Isso prova o quanto influenciou o cinema.
Sem dúvida, o impacto não é nem traço do que deve ter sido em 1941. Isso se deve ao fato de que as conquistas técnicas e narrativas de Cidadão Kane foram “ultrapassadas” desde então, até chegar ao atual padrão de montagem “videoclíptico”. Porém, o filme se mantêm atraente pelo sutil expressionismo de alguns planos, a montagem deixa o espectador preso ao filme.
Se em todos as aspectos técnicos Cidadão Kane é impecável, é no roteiro que ele tem seu maior trunfo. Durante o filme inteiro se busca pelo significado da palavra Rosebud, sem que o significado seja revelado. A cena mais bela do filme, e uma das mais belas do cinema, acontece quando se descobre (somente o espectador) o significado da palavra misteriosa: a câmera filma do alto os homens e as obras de arte do falecido Kane, parecendo com uma cidade o conjunto. Isso, associado à incineração do verdadeiro Rosebud, representa a pequenez da humanidade e das obras de arte - "universais" - diante do tempo.

1 Comments:

At 11:22 PM, Blogger Emilly said...

Gostei da crítica de Cidadão Kane, apesar de não tê-lo visto!!!!!!!
Porra Tarcízio, =) Gostei mesmo. Quando o vir vou embasar minha discussão.

=****

 

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