25.7.06

Minha Senhora


Tão resumidas;
Tantas moradas das paixões;
Movendo sua boca com a minha;
Suas pernas nas minhas e o cheiro de amor e lagrimas;
Posso dizer que te amo?
Posso falar das sombras do passado?
Teu passado excêntrico e noturno pelo qaul me perdi;
Tantas horas nas esquinas;
Seu corpo e outras mãos por tão pouco;
Nas boleias, nos motéis e quantos de pensão vagabundos;
Nesta boca que te beijo e por tantas bocas já se saciaram;
Posso te ser fiel?
Podes ser-me fiel e mulher?
Onde jogo minha ancora tem terra firme?

9.7.06

Fuga de Hades



Sombra e escuridão não mais existem
Declaro agora suas mortes
Há agora só remanescentes de um sonho torpe
Existências dalistas!
Achava-me embriagado por sentimentos funestos
Encontrava-me na Estigia
Agora vejo as nuvens desfazerem
Um novo céu que não deslumbrava antes
Agora sinto meu caminho novamente
Um caminho repleto de notas harmônicas
Odes a alegria e ao vinho
Como queria ser esse trovador intrépido!
Somente desejos
Há!! Somente desejos!

2.7.06

Minha Cadela


Dei um nome a minha solidão; chamo-a de cadela
ela é tão inoportuna e desavergonhada,
tão brincalhona e esperta como um cão
e eu posso nela bater e descarregar meu mau humor,
como fazem os outros
com seus cães, criados e mulheres.

1.7.06

Botão de Rosa











Num clima árido, infértil,
encontro um botão de rosa.
Nunca tocado ou descoberto,
sou o primeiro jardineiro.

Não quer ser colhido:
foge, se esquiva.
Mas cede ao toque:
se entrega vencido.

Sinestesia:
a forma,
o aroma,
o gosto,
a textura.

Não colho. Mudei de método.
Mas a mordida não tira sangue.
Liberta o líquido,
o sabor,
o cheiro,
a convulsão.

A rosa floresce.

O Amante Anônimo

cena de Rear Window

Gostaria primeiramente desculpar-me ao inatual leitor desta carta, pela mal fadadas palavras, mas carecia de transmitir esta história que agora contarei.
Poderia dizer que Sampaio era o típico cidadão exemplar. Não bebia, não fumava, chegava no seu trabalho meia hora antes do seu horário e saia sempre uma hora depois de terminar seu expediente. Era daqueles que entregaria uma maleta cheia de dinheiro à polícia caso achasse na rua ou procuraria o dono do montante. Funcionário público, correto ao extremo, um "caxias" de verdade.
Mas Sampaio tinha um defeito, ou seria uma doença? Bem, não serei eu que julgarei, não tenho a pretensão e nem poderia se quisesse. O importante é saber que ninguém desconfiava que Sampaio tinha a tara de observar sua vizinha, dona Carmem, mulher distinta, além de bonita e simpática de apanhar de seu marido todos os dias quando este chegava em casa. Neste momento, Sampaio já ficava no seu camarote, um sofá velho com forro de napa bege, na sala, de frente para a janela da casa de Carmem. Sampaio assistia o homem bater e depois lambuzar-se no corpo de Carmem. No íntimo de Sampaio, as vezes vinha a tona a vontade de matar o sujeito porco que se aproveitava de Carmem e tira-la daquele inferno matrimonial. Mas logo perdia a coragem, não era tão corajoso assim, además, Sampaio sentia certo prazer em ver tal espetáculo.
Depois de assistir, Sampaio dirigia-se à sua cama, ressentido e magoado por não fazer nada, mas, satisfeito em poder vê-la todos os dias ser possuída, e imaginar-se no lugar do homem que a penetrava-lhe .
Era um misto de amor e ressentimento, assim era a vida de Sampaio caro leitor.
As cenas repetiam-se durante dias, meses, e anos após anos aquela mulher sofria tais tormentos, e Sampaio, continuava o mesmo covarde de sempre e amante anônimo, sempre gozando no falo do outro.
Certo dia, a casa caiu, no dia fatídico em que Carmem exigiu para si a liberdade sonhada. Fora assassinada e esquartejada, esse foi o presente dado com amor e ódio! A liberdade.
Foi dado trinta anos ao marido, acusado de homicídio doloso, e foi na prisão que conheci a história que conto. A este acusado, saudoso da bela Carmem, foi encontrado enforcado com um lençol amarrado nas grades da sua cela.
O leitor deve estar se perguntando o que aconteceu com Sampaio.
Este, foi encontrado anos depois, morto, vítima de câncer, na sala de sua casa, sentado em seu velho sofá, voltado de frente para a janela onde se via a casa de sua amada. No seu quarto foi encontrado um facão, ainda manchado do sangue de Carmem.