22.2.08

II ciclo de Cinema e filosofia


O cinema e a filosofia sempre andaram próximos e muitos dos grandes temas filosóficos foram explorados e reescritos pela sétima arte - Suas fronteiras já se cruzaram várias vezes. O II ciclo de cinema e filosofia visa explorar essa relação, com o intuito de estabelecer um diálogo aberto entre os conceitos, próprios da filosofia, e a narrativa cinematográfica. Durante o ano será apresentados filmes e palestras com profissionais da área de filosofia da Universidade Federal da Bahia. O ciclo é promovido pelo grupo PET-Filosofia (programa de educação tutorial), que visa o aperfeiçoamento da formação estudantil da universidade em seus aspectos indissociáveis de ensino. pesquisa e extensão.

Logo estará sendo postado a programação do evento.

Mais informações:
https://argumento.ffch.ufba.br/twiki/bin/view/PETFilosofia/WebHome
http://petdefilosofiadaufba.blogspot.com/

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21.12.07

Dexter



Quando a gente pensa que não terá mais nada de novo e decente na TV acabamos confirmando a frase “a vida é uma caixinha de surpresas”. Tenho acompanhado um seriado americano chamado Dexter (infelizmente não é apresentado nas telinhas abertas tupiniquins, mas é apresentado no canal fechado Fox aos domingos), a série conta a história de um psicopata especialista em sangue do departamento de polícia de Miami. Devido a um fato violento que aconteceu com o jovem protagonista ele desenvolveu essa tendência homicida, mas graças ao pai adotivo Dexter Morgan (Michael C. Hall), que também é policial o jovem Dexter é orientado desde pequeno a controlar seus violentos instintos e canalizá-los para fins menos danosos a sociedade e assim poder viver uma vida “normal” ( ele caça e mata outros assassinos em série). No elenco temos Julie Benz (Rita Bennett), Jennifer Carpenter (Debra Morgan), Erik King (Sargento Doakes), Lauren Vélez (Tenente Maria LaGuerta), David Zayas (Angel Batista) e James Remar (Harry Morgan). O criador é James Manos Jr (The Shield-2002, Família Soprano (1999) co-produtor, Pânico na Estrada (1999) roteirista). Na Primeira temporada o protagonista é desafiado por outro psicopata que deixa as pessoas já mortas em lugares públicos e em “partes”, com um detalhe sem uma gota de sangue no corpo, o que para Dexter é excitante, este então ajuda a polícia a caçar este predador mortal na cidade de Miami. A 1ª temporada tem 12 episódios e a 2ª temporada tem 24 episódios.

CRIADOR
James Manos Jr

Elenco: Julie Benz (Rita Bennett), Jennifer Carpenter (Debra Morgan), Erik King (Sargento Doakes), Lauren Vélez (Tenente Maria LaGuerta), David Zayas (Angel Batista) e James Remar (Harry Morgan).

PRODUTORES/ESTÚDIO
John Goldwyn ("Forrest Gump", "Titanic"), Sara Colleton ("Live From Baghdad") e Clyde Phillips ("Suddenly Susan", "Boomtown")/Showtime Produtions e CBS/Paramount Television.

Origem:
EUA-2006

24.10.07

Iº Ciclo de Cinema e Filosofia



O grupo PET (Programa de Educação tutorial) de Filosofia da UFBA realizará um ciclo de Cinema e Filosofia. Com esse projeto, pretendemos estabelecer diálogos com diferentes áreas de conhecimento e a filosofia: serão seções onde exibiremos filmes clássicos e contemporâneos e faremos discussões sobre questões filosóficas, políticas, etc., explorando a diversidade de abordagens teóricas

https://argumento.ffch.ufba.br/twiki/bin/view/PETFilosofia/WebHome
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6.10.07

Os Sofrimentos do Jovem Werther

Os Sofrimentos do Jovem Werther traz o drama desde o título, ultra romântico. Lançado no final do século XVIII na Alemanha, escrito por Goethe, este livro é famoso por supostamente ter sido causa de uma onda de suicídios dos leitores, de tão triste que é o destino de Werther. O protagonista sofre de amor por Charlotte Buff, noiva de outro, ainda por cima amigo. O livro é escrito com uma estratégia que acho particularmente interessante. Começa da seguinte forma:

"Juntei tudo o que foi possível recolher acerca do pobre Werther, e aqui lhes apresento, seguro de que por isso vocês irão me agradecer. Também sei que não poderão recusar sua admiração e amizade ao espírito e caráter desse jovem, e nem deixarão de verter lágrimas por seu destino. E você, bom homem, que sente as mesmas angústias do desafortunado Werther, que você possa encontrar consolação em seus pensamentros; e que faça deste livro um amigo, se não puder encontrar, por força do destino ou por própria culpa, alguém mais próximo."

È um romance epistolar, todo constituído de cartas. A partir da advertência do "editor", todo o livro é feito de correspondências nas quais o protagonista conta a seu amigo, Wilhelm, como conhece e se apaixona perdidamente por Charlotte.

Li já há algum tempo este livro. Emprestei a um colega já faz algum tempo e, esta semana [deus/destino é piadista], ele devolveu-me. O livro "envelheceu" um pouco. De um modo mais geral, esse tipo de romantismo é considerado "brega", "sem dignidade" hoje. E, particularmente falando, o tempo que se passou desde que li pela primeira vez, deixei de entregar-me tão desesperadamente [ou pelo menos me convenci disso] a amores adolescentes infinitos.

Porém, os sofrimentos narrados continuam a ser impactantes. Particularmente acho a carta de 30 de outubro bastante definidora de todo o tom do livro:

"Já estive a ponto de apertá-la em meus braços centenas de vezes! Deus todo-poderoso, sabe o que se sente ao ver todos os encantos e não poder tocar... E no entando, é um impulso natural da humanidade o querer tocar o que nos fere os sentidos. Não é o que fazem as crianças? E eu?"

Seja um amor desesperado, atração física ou complicações românticas várias, todo mundo já passou por uma situação destas. A civilidade é posta em risco quando a paixão obscurece as constatações racionais de que tudo impede o relacionamento.

A edição que tenho é a da Martin Claret, livro de bolso de baixo custo. Pequenino, dá pra carregar e ir lendo aos poucos. Só cuidado caso não saiba o final. A espertíssima editora revela o destino de Werther na contra-capa do livro. Porém, é barato e poucas gramas que valem muito a pena.

+ compre o livro

11.8.07

POR QUE O SAPO NÃO LAVA O PÉ?

Parmênides de Eléia: Como poderia o sapo lavar os pés, ó deuses, se o movimento não existe?
Heráclito de Éfeso: Quando o sapo lava o pé, nem ele nem o pé são mais os mesmos, pois ambos se modificam na lavagem, devido à impermanência das coisas.
Platão: Górgias: Por Zeus, Sócrates, os sapos não lavam os seus pés porque não gostam da água! Sócrates: Pensemos um pouco, ó Górgias. Tu assumiste, quando há pouco dialogava com Filebo, que o sapo é um ser vivo, correto? Górgias: Sou forçado a admitir que sim. Sócrates: Pois bem, e se o sapo é um ser vivo, deve forçosamente fazer parte de uma categoria determinada de seres vivos, posto que estes dividem-se em categorias segundo seu modo de vida e sua forma corporal; os cavalos são diferentes das hidras e estas dos falcões, e assim por diante, correto? Górgias: Sim, tu estás novamente correto. Sócrates: A característica dos sapos é a de ser habitante da água e da terra, pois é isso que os antigos queriam dizer quando afirmaram que este animal era anfíbio, como, aliás, Homero e Hesíodo já nos atestam. Tu pensas que seria possível um sapo viver somente no deserto, tendo ele necessidade de duas vidas por natureza,ó Górgias? Górgias: Jamais ouvi qualquer notícia a respeito. Sócrates: Pois isto se dá porque os sapos vivem nas lagoas, nos lagos e nas poças, vistos que são animais, pertencem e uma categoria, e esta categoria é dada segundo a característica dos sapos serem anfíbios. Górgias: É verdade. Sócrates: precisando da lagoa, ó Górgias meu caro, tu achas que seria o sapo insano o suficiente para não gostar de água? Górgias: não, não, não, mil vezes não, Ó Sócrates! Sócrates: Então somos forçados a concluir que o sapo não lava o pé por outro motivo, que não a repulsa à água Górgias: de acordo Diógenes, o Cínico: Dane-se o sapo, eu só quero tomar meu sol.
Aristóteles: O [sapo] lava de acordo com sua natureza! Se imitasse, estaria fazendo arte . Como [a arte] é digna somente do homem, é forçoso reconhecer que o sapo lava segundo sua natureza de sapo, passando da potência ao ato. O sapo que não lava o pé é o ser que não consegue realizar [essa] transição da potência ao ato.
Epicuro: O sapo deve alcançar o prazer, que é o Bem supremo, mas sem excessos. Que lave ou não o pé, decida-se de acordo com a circunstância. O vital é que mantenha a serenidade de espírito e fuja da dor.
Estóicos: O sapo deve lavar seu pé de acordo com as estações do ano. No inverno, mantenha-o sujo, que é de acordo com a natureza. No verão, lave-o delicadamente à beira das fontes, mas sem exageros. E que pare de comer tantas moscas, a comida só serve para o sustento do corpo.
Descartes: nada distingo na lavagem do pé senão figura, movimento e extensão. O sapo é nada mais que um autômato, um mecanismo. Deve lavar seus pés para promover a autoconservação, como um relógio precisa de corda.
Maquiavel: A lavagem do pé deve ser exigida sem rigor excessivo, o que poderia causar ódio ao Príncipe, mas com força tal que traga a este o respeito e o temor dos súditos. Luís da França, ao imperar na Itália, atraído pela ambição dos venezianos, mal agiu ao exigir que os sapos da Lombardia tivessem os pés cortados e os lagos tomados caso não aquiescessem à sua vontade. Como se vê, pagou integralmente o preço de tal crueldade, pois os sapos esquecem mais facilmente um pai assassinado que um pé cortado e uma lagoa confiscada.
Rousseau: Os sapos nascem livres, mas em toda parte coaxam agrilhoados; são presos, é certo, pela própria ganância dos seus semelhantes, que impedem uns aos outros de lavarem os pés à beira da lagoa. Somente com a alienação de cada qual de seu ramo ou touceira de capim, e mesmo de sua própria pessoa, poder-se-á firmar um contrato justo, no qual a liberdade do estado de natureza é substituída pela liberdade civil.
Locke: Em primeiro lugar, faz-se mister refutar a tese de Filmer sobre a lavagem bíblica dos pés. Se fosse assim, eu próprio seria obrigado a lavar meus pés na lagoa, o que, sustento, não é o caso. Cada súdito contrata com o Soberano para proteger sua propriedade, e entendo contido nesse ideal o conceito de liberdade. Se o sapo não quer lavar o pé, o Soberano não pode obrigá-lo, tampouco recriminá-lo pelo chulé. E ainda afirmo: caso o Soberano queira, incorrendo em erro, obrigá-lo, o sapo possuirá legítimo direito de resistência contra esta reconhecida injustiça e opressão.
Filmer: Podemos ver que, desde a época de Adão, os sapos têm lavado os pés. Aliás, os seres, em geral, têm lavado os pés à beira da lagoa. Sendo o sapo um descendente do sapo ancestral, é legítimo, obrigatório e salutar que ele lave seus pés todos os dias à beira do lago ou lagoa. Caso contrário, estará incorrendo duplamente em pecado e infração.
Kant: O sapo age moralmente, pois, ao deixar de lavar seu pé, nada faz além de agir segundo sua lei moral universal apriorística, que prescreve atitudes consoantes com o que o sujeito cognoscente possa querer que se torne uma ação universal. Nota de Freud: Kant jamais lavou seus pés.
Hegel: podemos observar na lavagem do pé a manifestação da Dialética. Observando a História, constatamos uma evolução gradativa da ignorância absoluta do sapo – em relação à higiene – para uma preocupação maior em relação a esta. Ao longo da evolução do Espírito da História, vemos os sapos se aproximando cada vez mais das lagoas, cada vez mais comprando esponjas e sabões. O que falta agora é, tão somente, lavar o pé, coisa que, quando concluída, representará o fim da História e o ápice do progresso.
Marx: A lavagem do pé, enquanto atividade vital do anfíbio, encontra-se profundamente alterada no panorama capitalista. O sapo, obviamente um proletário, tendo que vender sua força de trabalho para um sistema de produção baseado na detenção da propriedade privada pelas classes dominantes, gasta em atividade produtiva alienada o tempo que deveria ter para si próprio. Em conseqüência, a miséria domina os campos, e o sapo não tem acesso à própria lagoa, que em tempos imemoriais fazia parte do sistema comum de produção. Engels: isso mesmo.
Schopenhauer: O sapo cujo pé vejo lavar é nada mais que uma representação, um fenômeno, oriundo da ilusão fundamental que é o meu princípio de razão, parte componente do principio individuationis, a que a sabedoria vedanta chamou "véu de Maya". A Vontade, que o velho e grande filósofo de Königsberg chamou de Coisa-em si, e que Platão localizava no mundo das idéias, essa força cega que está por trás de qualquer fenômeno, jamais poderá ser capturada por nós, seres individuados, através do princípio da razão, conforme já demonstrado por mim em uma série de trabalhos, entre os quais o que considero o maior livro de filosofia já escrito no passado, no presente e no futuro: "O mundo como vontade e representação".
Nietzsche: Um espírito astucioso e camuflado, um gosto anfíbio pela dissimulação - herança de povos mediterrâneos, certamente - uma incisividade de espírito ainda não encontrada nas mais ermas redondezas de quaisquer lagoas do mundo dito civilizado. Um animal que, livrando-se de qualquer metafísica, e que, aprimorando seu instinto de realidade, com a dolcezza audaciosa já perdida pelo europeu moderno, nega o ato supremo, o ato cuja negação configura a mais nítida – e difícil – fronteira entre o Sapo e aquele que está por vir, o Além- do-Sapo: a lavagem do pé.
Foucault: Em primeiro lugar, creio que deveríamos começar a análise do poder a partir de suas extremidades menos visíveis, a partir dos discursos médicos de saúde, por exemplo. Por que deveria o sapo lavar o pé? Se analisarmos os hábitos higiênicos e sanitários da Europa no século XII, veremos que os sapos possuíam uma menor preocupação em relação à higiene do pé – bem como de outras áreas do corpo. Somente com a preocupação burguesa em relação às disciplinas – domesticação do corpo do indivíduo, sem a qual o sistema capitalista jamais seria possível – é que surge a preocupação com a lavagem do pé. Portanto, temos o discurso da lavagem do pé como sinal sintomático da sociedade disciplinar.
Freud: Um superego exacerbado pode ser a causa da falta de higiene do sapo. Quando analisava o caso de Dora, há vinte anos, pude perceber alguns dos traços deste problema. De fato, em meus numerosos estudos posteriores, pude constatar que a aversão pela limpeza, do mesmo modo que a obsessão por ela, podem constituir-se num desejo de autopunição. A causa disso encontra-se, sem dúvida, na construção do superego a partir das figuras perdidas dos pais, que antes representavam a fonte de todo conteúdo moral do girino.
Jung: O mito do sapo do deserto, presente no imaginário semita, vem a calhar para a compreensão do fenômeno. O inconsciente coletivo do sapo, em outras épocas desenvolvido, guardou em sua composição mais íntima a idéia da seca, da privação, da necessidade. Por isso, mesmo quando colocado frente a uma lagoa, em época de abundância, o sapo não lava o pé.
Kierkegaard: O sapo lavando o pé ou não, o que importa é a existência.
Comte: O sapo deve lavar o pé, posto que a higiene é imprescindível. A lavagem do pé deve ser submetida a procedimentos científicos universal e atemporalmente válidos. Só assim poder-se-á obter um conhecimento verdadeiro a respeito.
Weber: A conduta do sapo só poderá ser compreendida em termos de ação social racional orientada por valores. A crescente racionalização e o desencantamento do mundo provocaram, no pensamento ocidental, uma preocupação excessiva na orientação racional com relação a fins. Eis que, portanto, parece absurdo à maior parte das pessoas o sapo não lavar o pé. Entretanto, é fundamental que seja compreendido que, se o sapo não lava o pé, é porque tal atitude encontra-se perfeitamente coerente com seu sistema valorativo – a vida na lagoa.
Horkheimer e Adorno: A cultura popular diferencia-se da cultura de massas, filha bastarda da indústria cultural. Para a primeira, a lavagem do pé é algo ritual e sazonal, inerente ao grupamento societário; para a segunda, a ação impetuosa da razão instrumental, em sua irracionalidade galopante, transforma em mercadoria e modismo a lavagem do pé, exterminando antigas tradições e obrigando os sapos a um procedimento diário de higienização.
Gramsci: O sapo, e além dele, todos os sapos, só poderão lavar seus pés a partir do momento em que, devido à ação dos intelectuais orgânicos, uma consciência coletiva principiar a se desenvolver gradativamente na classe batráquia. Consciência de sua importância e função social no modo de produção da vida. Com a guerra de posições - representada pela progressiva formação, através do aparato ideológico da sociedade civil, de consensos favoráveis– serão criadas possibilidades para uma nova hegemonia, dessa vez sob a direção das classes anteriormente subordinadas.
Bobbio: existem três tipos de teoria sobre o sapo não lavar o pé. O primeiro tipo aceita a não-lavagem do pé como natural, nada existindo a reprovar nesse ato. O segundo tipo acredita que ela seja moral ou axiologicamente errada. A terceira espécie limita-se a descrever o fenômeno, procurando uma certa neutralidade.
Olavo de Carvalho: O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer. Ele mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer e ainda culpa o sistema, quando a culpa é da PREGUIÇA. Este tipo de atitude é que infesta o Brasil e o Mundo, um tipo de atitude oriundo de uma complexa conspiração moscovita contra a livre-iniciativa e os valores humanos da educação e da higiene!

19.7.07

FullMetal Alchemist

Sei que minha praia é a filosofia, também sei que a parte que trata de cultura já tem um especialista neste honorável blog, o amigo Tarcízio que preenche com suas análises eloqüentes e perpicaz sobre cultura, mas não poderia me eximir de falar sobre este anime que me comoveu de súbito (o anime é uma de minhas grandes paixões de resquícios juvenis). Não porque tem algum efeito tecnológico novo, ou coisa parecida, mas por sua fantástica história. Mostrando mais uma vez que a galera dos olhos puxados ainda fazem bons animes. Não tentarei fazer uma análise muito dos personagens, pois me faltam ainda assistir grande parte da saga dos irmão alquimistas. Por isso estou fazendo o papel de "arauto" e apresentar este anime que é muito divertido e interesssante de assistir.

O anime se chama FullMetal Alchemist (Hagane no Renkinjutsushi, tradução literal de Alquimista de Aço) nome bem sugestivo, já que se trata de magia e tecnologia. O anime é baseado no mangá que é publicado numa revista semanal da empresa Shonen Gangan com o nome de Hagaren (como é chamado no Japão), O mangá consiste, até agora, em 16 volumes e 68 capítulos, enquanto o anime consiste em 51 episódios e o filme Shambala wo Yuku Mono. Transformado em jogo de video game e serie de televisão. Ela é desenhada pelas mãos de Arakawa Hiromu (Stray Dog). O mangá foi Vencedor do prêmio do 49°(2004) Shogakukan Manga Awards, Categoria Shonen.

Mas não é somente magia que se trata deste anime, a exemplo de Devil May Cry ou o infantil Sakura Card, é um desenho que amalgama dois universos distintos, a saber, da magia alquímica e da tecnologia. A trama do anime gira em torno de dois irmãos, Edward e Alphonso Elric. Eles vivem num mundo paralelo ao nosso onde a magia e a tecnologia vivem juntas. Edward, o irmão mais velho é o mais novo mestre alquimista do seu mundo. Devido a acidente envolvendo a mãe deles, os dois irmãos tentam fazer um humano ressuscitar, isso traria sérias conseqüências, pois essa ação entra em choque com o “ princípio da troca equivalente” (Tōka Kōkan), é a versão da lei de
conservação da massa de Antoine Lavoisier (considerado o criador da Química moderna).
Apesar de ser uma lei da
alquimia, o princípio da Troca Equivalente também é adotada por alguns alquimistas, como os irmãos Elric, como uma lei da vida.

Nada pode ser obtido sem uma espécie de sacrifício. É preciso oferecer algo em troca de valor equivalente. Esse é o princípio básico da Alquimia, a Lei Da Troca Equivalente. Naquela época, nós acreditávamos que essa lei fosse absoluta.

Por causa desse acidente o irmão Alphonso Elric perde seu corpo e Edward perde uma perna e um braço, dessa forma, começa a jornada dos dois, eles partem em busca da lendária “pedra filosofal” que faria eles voltarem ao que eram antes.

O seu longa se chama Shambala Wo Yuko Mono (Fullmetal Alchemist the Movie: Conqueror of Shamballa) O filme se passa dois anos após os eventos do último episódio do seriado
Fullmetal Alchemist. Edward vive em Munique (Alemanha) no ano de 1923, onde busca uma forma de voltar ao seu mundo e reencontrar com seus entes, mas ele terá que enfrentar também os problemas de sua época no outro mundo, como por exemplo Adolf Hitler.

9.7.07

O declínio da classe média parte II


Invasoes bárbaras (Les Invasions Barbares) de 2003, continuação de Declinio do império americano( Le Déclin de L'Empire Américain) de 1986 é uma saudação a nostalgia, o grupo de Rémy (Rémy Girard) se reúnem mais uma vez, desta vez, para a despedida do amigo Rémy, que nessa continuação de declinio, esta com câncer terminal. A maior parte do filme se concentra no conflito de pai e filho, Rémy agora tem chance de fazer as pazes com seu filho Sébastien (Stéphane Rousseau) que opera numa financeira em Londres. O conflito expõe graves feridas dos dois personagens, a saber, o filho tem um ressentimento com o pai, achando que Rémy não deu atenção a família como devia em prol de suas aventuras voluptuosas! Os velhos tempos agora não tem mais significado, o capitalismo e consumismo parece tomar conta da mundo, e Rémy se ressente por isso. Os amigos ao seu lado nos últimos momentos de vida tentam reviver também seus momentos de alegrias e tristezas com Rémy. Neste filme notasse a estratégia do autor mais uma vez de retratar seu antamericanismo, porém continua seu pensamento de que pode se viver uma vida com bom gosto face a mediocridade da sociedade. Ele parece dar uma resposta ao velho dialogo que ocorre no O Declínio do Império Americano. A saber, para que caminho a civilização anda, seu apogeu cientifico-tecnologico, ou para uma decadência político-social. Podemos notar a resposta bem clara do Denys Arcand quanto a este debate, o mundo parece não melhorar apesar dos avanços tecnlogicos. A eutanásia, a globalização, a discriminação das drogas e principalmente a permanência dos valores, fome, drogas , corrupção, capitalismo, tudo tente a piorar. Para a personagem, só resta morrer com seus amigos e parentes próximos. O filme nos deixa uma grande lição, a saber, que nós devemos aproveitar o melhor possível da vida, porém, com responsabilidades, afinal, como diz o personagem “Os homens passam e as obras ficam”. Enfim, o filme é memorável, o roteiro e atuação de Rémy Girard estão espetaculares. O filme ganhou oscar de melhor filme estrangeiro e Ganhou os prêmios de Melhor Atriz (Marie-Josée Croze) e Melhor Roteiro, no Festival de Cannes.

7.7.07

O declínio da classe média parte I


O filme Declínio do Império Americano (Le Déclin de l'Empire Américain) a primeira vista parece somente falar das questões politicas do império, mas neste filme há algo mais. A saber, dos relacionamentos e o declínio das estrutura familiar da classe media canadence. A política parece disfarçar as reais intenções do diretor e roteirista Denys Arcand. Nele há algo mais profundo, que invoca reflexão a respeito dos relacionamentos afetivos humanos, a ver, os temas do homosexualismo, a amizade, as paixões, tudo que faz do homem o que ele é na verdade (sua impetuosidade, frieza, a traição, a astucia, a ganância, a mediocridade, e muita volúpia) o filme é um drama, mas, é divertido. Principalmente quando Rémy (Rémy Girard) dança com seus amigos e fala do trabalho que dá para um homem levar uma mulher para a cama. O filme ao mesmo tempo põe em xeque tudo que nós achamos que sabemos da vida, a saber, das desilusões do casamento, a monotonia de um relacionamento oficializado pela sociedade. Algumas vezes o filme parece ser uma comedia, as vezes um drama, isso pode denotar as intenções do diretor em mostrar que a vida é essa amálgama de experiências alegres e frustrantes. Relegando o homem a sempre se questionar se vale a pena viver intensamente ou não. o filme é fantástico, ideal para aqueles que acreditam ter suas concepções e valores bem fundamentados. O filme recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro e ganhou o Prêmio FIPRESCI, no Festival de Cannes.


18.6.07

Chorando no banheiro

Duchamp. Uma bibinha frágil?
Disseram por que andei chorando no banheiro. Chorei mesmo. Mas pensei, pensei e pensei. Não entendi o motivo da crítica. Qual o problema? Chorar é coisa de fresco ou de mulherzinha? Não é porque gosto de homem que vou ofender as mulheres, né? Tá na hora de reverter, isso sim, a valoração de características “femininas” como sensibilidade, voz aguda e choro sincero como negativas. Barbie acho que não. Mas, com certeza, prefiro ser uma Susi do que o beligerante Falcon.

Talvez o problema seja o banheiro! Banheiro público não é lugar pra sexo. Claro que não. Banheiro é lugar pra mijar, cagar, lavar mão... Que deixem os saudosismos de lado! Porque que menino com menino e menina com menina só podem se divertir às escondidas? Chega disso. A atitude análoga à “queima de sutiãs” deveria ser a livre expressão da sexualidade. Deixar claro que as minorias não são minorias de fato é muito mais efetivo que a postura de querer fazer polêmica com tudo, deixando a verdade de lado. Por isso é que damos amasso na escada, na porta, no pátio mesmo. E se for algo mais intenso, vamos pra casa (talvez no chuveiro), motel etc. Qualquer lugar não fedido.

Além de tudo, a choradinha no banheiro alivia. Se cada pesssoa contrariada por algo tirasse dois minutos pra chorar no banheiro, o mundo seria um lugar melhor. E quem achar que está perdendo a fama para rapazitos imberbes recém-ingressos na pederastia, é só recorrer à choradinha. Resolve assim, não precisa ofender ninguém...

30.5.07

Campus Lázaro... Santo?


Quando entro na faculdade de Filosofia e ciências humanas da Ufba sinto uma tremenda angustia, porque já me perguntaram qual o perfil dos alunos de São Lázaro. Posso dizer que realmente não sei qual é a de São Lázaro. É serio! Lá podemos encontrar todo tipo de figurinhas que freqüentam, estudam e perambulam. Ao entrar no campus mais desfigurado da Ufba podemos nos deparar com todo tipo de personagens (o próprio ambiente do campus já é curioso).

Há o tipo hippies pós-modernos - aqueles que celebram a cannabis e vestem roupas de grife, se dizem contra a tecnologia e seus absurdos e ao mesmo tempo usam celulares e andam de carro poluindo tudo.

Tem os últimos dos bolcheviques, que acham que podem derrotar tudo e todos apenas gritando velhas frases de protesto, são os últimos seguidores de Che Guevara, falam de China mas não falam dos baixos salários dos trabalhadores, falam da educação porém não falam que todo estudante devem trabalhar nos campos de arroz por dois anos não remunerados, estes realmente só vêm o que querem ver.

Os “tô nem aí”, estes não fazem realmente nada mais daquilo que a universidade oferece, olham sempre para o alto, nada os comove, nada os incomoda, só interessa boas médias e terminar o curso no tempo certo para arrumar algum emprego no serviço público.

Há também os “cult”. Estes são curiosos, fazem da sua própria forma de ser seu cartão de visitas, garantem sempre um lugarzinho nos cinemas onde apresentam filmes estranhos e sem sentido algum, são filmes da Coréia, filmes do Ceilão e até de lugares que não ouso mencionar seu nome de tão difícil (obsceno) é a pronúncia. Andar com eles é poder aprender todos os tipos de clichês sobre arte e cultura. Estes sempre estão falando das maravilhas dos filmes noir francês, da perspectiva politizada de Godard, do vanguardismo de Hitchcock. Estão sempre enterrados nos banquinhos de peças teatrais, com mão no queixo dando ar de intelectual, assistindo peças sem graça, e saindo como se tivessem entendido tudo do espetáculo.

São Lázaro é mesmo uma curiosa representação da multiplicidade cultural do estado. Não posso me encaixar num destes, sou péssimo aluno (médias sempre medíocres, diga se de passagem!), talvez possa me encaixar nos que tentam mas não consegue se encaixar. Enfim se querem conhecer o lugar da UFBa mais desorganizado, sujo, estranho (mas com a melhor vista!), podem ir para o campus de São Lázaro, lá tem de tudo, menos santo!

18.5.07

Super Heróis Gays


Os quadrinhos sempre foram polêmicos em se tratando de personagens de orientação não-hétero. Na maioria das revistas, principalmente as dos universos Marvel e DC, que são as mais vendidas, só existiram heterossexuais durante muito tempo. Na década de 50, o “psicólogo” Frederick Wertham escreveu o relatório A Sedução dos Inocentes, que teve consequências desastrosas.

Nessa obra ele mostrava todos os supostos danos que os quadrinhos provocavam nos jovens. Todos os medos do americano médio da época estavam lá. Além de incentivar o comunismo, a maioria dos heróis eram maus exemplos por incentivar condutas sexuais questionáveis. A Mulher-Maravilha vinha de um país só de mulheres, enquanto Batman e Robin eram chegados demais...

O relatório foi levado ao Senado americano, que discutiu o assunto. Para evitar a falência, as empresas de quadrinhos criaram um código de censura interno que, dentre outras conseqüências, matou o menino-prodígio. Apesar das alegações de Wertham serem em sua maior parte infundadas, o código ajudou a manter os heróis dentro do armário.

Cinqüenta anos depois, a situação vem mudando. O segundo número da revista Mundo Super Heróis (Editora Europa, 10/2006, r$9,90) traz uma matéria de duas páginas sobre super heróis gays. O autor usa o termo genericamente, pois também traz alguns heróis bissexuais e heroínas lésbicas. Talvez até pan, considerando o alienígena Starman.

Entre os mais famosos temos John Contastine, que se declarou bissexual na edição 51 da revista Hellblazer. Na conservadora Marvel, a revista Jovens Vingadores, ainda em seus primeiros números, é a primeira a trazer dois protagonistas gays em relação estável. Os adolescentes Billy Kaplan e Teddy Altman são os heróis Wiccan e Hulkling, possíveis substitutos de Thor e Hulk.

A revista pode ser comprada aqui. Também visite o fórum de discussão F.A.R.R.A., que tem um tópico dedicado à revista aqui.

"I'm Try-Sexual"


Em 1970 David Bowie já possuía alguma fama, principalmente com seu álbum Space Oddity e o misterioso Major Tom da faixa-título. Se o planeta Terra era azul e não havia o que fazer, a prostração não alcançava o espírito polemista de Bowie. Seu álbum seguinte, The Man Who Sold The World seria lançado com uma das capas mais polêmicas da história do rock: sobre um divã azul, segurando cartas de baralho, Bowie posa de vestido azul e longos cabelos dourados. No autoproclamado país da liberdade, os Estados Unidos, o álbum é lançado com uma capa diferente...

Era o prenúncio de um novo estilo de rock and roll que estava sendo criado por Bowie, T-Rex, New York Dolls entre outros. O “exagero” era a palavra chave do glam. Luzes coloridas, cabelos grandes e coloridos, glitter, roupas esvoaçantes ou andróginas e músicas retratando temas tabus na época: drogas, prostituição, homo, bi e transexualidade etc.

Com o álbum Hunky Dory, Bowie introduziu de vez o glam. Hunky é uma gíria para homens musculosos. Na capa, o cantor aparece alisando longos cabelos loiros e novamente de vestido, reforçando a ambigüidade do título. No vinil, a música Queen Bitch é tributo à banda Velvet Underground, fala de uma prostituta; e outra é uma homenagem ao artista gay fundador da Pop Art, Andy Warhol.

No seu álbum mais famoso, o The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, de 1972, o cantor se transveste no alien Ziggy Stardust. Só aparece em público vestido como o marciano andrógino que dá nome ao disco. Foi sua persona mais famosa até hoje, entre as tantas do camaleão do rock.

David Bowie exerceu um papel importante para a liberação sexual na música. Precursor de um estilo musical gay por excelencia, foi um dos primeiros grandes rock stars a assumir publicamente uma sexualidade que não a hétero. Ao contrário dos travestidos New York Dolls, que afirmavam ser heterossexuais, Bowie revela ser gay em uma entrevista para a revista britânica Melody Maker, ainda em 1972. Anos depois desmente ser bissexual (o cantor se casou duas vezes com mulheres) em outra entrevista: “I’m try-sexual. I’d try anything”.

17.5.07

Macanudo



Macanudo é o nome do mundo das tirinhas criadas pelo artista argentino Liniers. Publicadas no jornal La Nacion, as tirinhas também são disponibilizadas em www.autoliniers.blogspot.com. Quando pus os olhos na primeira tira, foi paixão à primeira vista. Aos poucos, descobri dois diferenciais em relação a outras tiras de que gosto, como Piled Higher and Deeper, Garfield, Dilbert e Mafalda.

O primeiro é a quantidade e peculiaridade de seus personagens. A mais comum é Enriqueta, uma menina que, na companhia de seu urso de pelúcia Madariaga e de um gato de sugestivo nome Fellini, percorre as delícias da infância, liberdade e literatura. Las Verdaderas Aventuras de Liniers é semi auto-biográfico, sobre um coelho antropomórfico quadrinista. Em Lorenzo y Teresita acontecem as pequenas situações cômicas de todo casal. Cosas que, a lo mejor, le pasaron a Picasso traz o pintor espanhol como protagonista brinca com arte e artistas afetados. Algo em torno de duas dúzias de núcleos de personagens ou séries, como Gente que anda por ahí, tiras que giram em torno de peculiaridades humanas. Outro curiosíssimo é o El Misterioso Hombre de Negro. Uma figura enigmática. Misteriosa.

O segundo, e mais fascinante, é a liberdade criativa que Liniers se permite. Além do desenho encantador, o autor sabe do potencial que há naqueles poucos centímetros. Para cada grupo de personagem ou série o autor usa recursos diferentes. Por exemplo, em El Hombre Misterioso de Negro, o requadro é comumente usado como parte do significado. Ocultando algum elemento, geralmente o personagem, o recurso é associado com o “mistério’, que vinha literalmente escrito nas primeiras tiras, e pôde ser dispensado nas seguintes. Em outras ocasiões, o requadro é enfatizado, como na tira de Picasso, que parece estar dentro de molduras. Noutras, o requadro some, mas a disposição dos elementos quase que indica um "requadro invisível". Nas tiras dos duendes e das ovelhas costuma ser usada a quebra da repetição de certos elementos. A forma, textura ou cor de algum dos elementos em relação aos demais, acompanhado ou não de linguagem escrita, é o essencial dessas tiras. Esses são só alguns dos recursos mais óbvios que o quadrinista usa para não se curvar à comodidade da palavra. A riqueza da tira é enorme, e merece ser alvo de uma reflexão profunda e fundamentada. Talvez eu o faça, mas ainda preciso de muita bagagem para ganhar o visto de entrada.

29.1.07

Aniquilamento do individualismo em Nietzsche

por Nelson L. Rodrigues. Apresentado no I Encontro de Pesquisa da Pós-Graduação de Filosofia da Ufba.


Nietzsche em sua obra Genealogia da Moral (1887) confronta suas idéias com a dos historiadores, psicólogos e intelectuais da época, acusando-lhes de falta de sentido histórico. Ele percebe através de suas analises que, para a formação de uma civilização foi necessário ter desenvolvido uma forma de interiorizar as normas. Foi necessário castigos, punições criados nas guerras e adaptados no protocidadão, (quando as primeiras hordas bárbaras dominaram pequenos grupos nômades e dispersos e incutiu neles mecanismos de castigo, formando neles uma consciência, e assim normas morais a serem respeitadas por todos). Portanto, Nietzsche quer dizer é que as primeiras instituições foram criadas por tribos bárbaras, que ao dominarem povos mais fracos formou-se elites. Estes grupos com o passar do tempo, desde épocas pré-históricas, foram os que erigiram as primeiras formas de contratos sociais. Mas essas primeiras formas de acordo não foram de modo algum muito pacíficas, nem muito razoáveis para os dominados.

Para Nietzsche criar a possibilidade de uma individualidade só foi possível graças a estes castigos físicos e psicológicos, de modo que foi necessário formar no animal homem uma consciência, pois sem esta consciência não poderia colocar a fogo e brasa uma má consciência (mordida na alma). Ou seja, quando o homem não pode exteriorizar seus instintos cruéis, bárbaros e brutais até o limite, a energia psíquica interioriza-se na alma humana, fazendo neste homem uma má consciência, deixando-lhe doente, fraco de vontade, dócio, domesticado, portanto um animal pronto para viver em comunidade, o homem gregário.

Nietzsche identifica que os grandes construtores dessa forma adestrada de animal que promete foi conseguida pelo trabalho de grandes mestres da psicologia humana, o sacerdote. Inaugurando assim as primeiras noções de culpa, dívida, mundo além, paraíso, inferno, pecado, bem e mal. Ao ser forjado no homem, através de formas cruéis de castigo as noções de pecado, culpa, dívida, passou-se também a fazer parte a noção de mundo “real”, paraíso e absolvição, ou seja, de salvação. Ora, quando o homem tem a idéia de que sua vida depende da maneira que deve agir neste mundo em prol de um mundo verdadeiro, toda sua forma de ver a vida muda de perspectiva. Portanto sua individualidade passa a ser um perigo para a civilização, influindo na jurisprudência, como por exemplo a noção jurídica de que o corpo não pertence ao cidadão, mas sim, ao Estado, este detentor do corpo e da alma do homem.

Foi então forjado um animal que pudesse dizer não a vida, aos instintos, a terra, em prol de um “mundo inteligível”, um prometido céu foi necessário ser inventado para expiar um “eterno pecado original”. Este mundo criado pelas elites sacerdotais precisava ser validado para legitimar seu poder sobre a plebe, assim, o sacerdote investiu sobre si a categoria de representante de um ser onipotente, vingador e castigador.

“Precisamente com este poder ele mantém apegado à vida todo o rebanho de malogrados, desgraçados, frustrados, deformados, sofredores de toda espécie, ao colocar-se instintivamente à sua frente como pastor”. ( § 18. GM pg. 124)

Portanto percebe-se que Nietzsche descobre que na história da humanidade as formas de castigo que antes eram utilizadas no inimigo, no estrangeiro, agora passam a ser adaptadas em técnicas do processo civilizador do animal homem.

“ou seja a causa da gênese de uma coisa não é a sua utilidade final, mas há uma força que sempre quer assenhorear e subjugar” .(§ 12. GM, pg.66.)

Para se formar o homem gregário foram necessários séculos de tortura, formas bem especiais de formar no homem uma memória para com isso construir este animal homem, um ser que pudesse prometer e aceitar os contratos sociais. Portanto, para Nietzsche o Estado não foi formado a partir de um acordo de cavalheiros, mas sim formado através da violência. O que quer dizer que a história da sociedade e da cultura foi fruto de lutas de forças, de classes dominantes, de guerreiros bárbaros sobre outros povos em maior número, porém menos fortes, nômades e disformes.

É com a contenção desses instintos que cria-se uma consciência, ou seja, esses instintos primitivos não mais podendo sair do ser humano interiorizam-se, impedindo-o de agir livremente sobre o outro, age sobre si mesmo, tornando o homem um animal doente e fraco.

“Todos os instinto que não se descarregam para fora voltam-se para dentro isso é o que chamo de interiorização do homem: É assim que no homem cresce o que depois se denomina alma”.
(§ 16 GM, pg.73)


É assim o homem na sociedade, um animal doente, compassivo, neurótico, fraco e sem vontade. O que temos ai é uma contradição curiosa. Vemos que foi formada essa doença (má consciência), porém essa doença é uma força é considerada por Nietzsche ativa e produz ideais reativos, imaginosos, portanto sem a má consciência também não haveria civilização, cultura e arte (kunst). Pode se verificar com isso que da violência, da coisa feia e ruim nasce uma coisa boa e bela.

Este homem moderno é para Nietzsche um ser decadente. (entende-se decadente para o filosofo, é tudo que se opõe à vontade de potência, ou seja, decadência é proporcional à falta de agir consciente e individualmente). Por isso, a crítica mordaz a democracia e a modernidade e sua adoração à razão. Estas três realizações, para Nietzsche são criações do animal manso e domesticado que é o homem moderno; portanto, são frutos do homem que se apequenou, apenas um estágio decadente da organização política, o homem democrático. Podemos ver paises como os Estados Unidos da América (antes do evento de 11 de setembro 2001) que por terem um nível alto de domesticação e obediência civil, suas leis e sua liberdade moral são bem mais flexíveis, ao passo que em paises onde suas bases institucionais são mais frágeis, as leis para garantir uma “segurança social” são bens mais rígidas. Nestes casos quando a elite é ameaçada e toda a sua ordem, são necessários acordos entre grupos (forças) para uma estabilização. Até o corpo do “indivíduo”, o cidadão, é vigiado, domesticado a ponto de acostumar se com as novas regras de convívio em sociedade.

“Independência é algo para bem poucos: é prerrogativa dos fortes. E quem procura ser independente sem ter a obrigação disso, ainda que com todo o direito, demonstra que provavelmente é não apenas forte, mas temerário além de qualquer medida.”
(§ 29. pg.36, ABM).


Mas como se deu a forma mais acabada de civilização? Ora, após a revolução industrial, o sujeito, “o individuo” foi forçado a desaparecer das relações sociais em prol de um dividuo, ou seja, um ser dividido entre seus impulsos e sua “consciência”. Percebemos que tanto as formas político-economicas do capitalismo e do comunismo-socialismo têm algo em comum, a aniquilação do individualismo, o sentimento de coletividade próprio do animal de rebanho que quer sempre trabalhar em grupo, logo, o patriotismo, a modéstia, amor ao próximo são idéias modernas, próprios da vida em sociedade, em que não é levado em consideração tudo aquilo do indivíduo. As idéias modernas, então, simbolizam as almas condenadas, ou seja, uma total abnegação do ego. Como se elas tivessem um valor em si mesmas. O que podemos verificar com isso é que o processo civilizatório foi um processo de aniquilamento do individualismo. Este homem coletivo, gregário é um ser doente, fraco e decadente. Como Freud diz em sua obra O mal estar na civilização (1929), há um contraste entre o individuo e seus choques com as exigências da coletividade e com aquilo que a civilização lhe exige. Há então a necessidade de estar inserido num grupo, ordem, padrão, sistema social sem desobedecer a normatização imposta pela sociedade, para que enquanto individuo não seja execrado da comunidade, abolido, expurgado como câncer, como uma perigosa doença, uma ameaça a civilização, a modernidade. A individualidade na sociedade judaico-cristã não só é vista como uma idéia abominável, mas também uma atitude amoral e antieconomica.

Mesmo no capitalismo, o individualismo vai de certa maneira de encontro aos princípios vigentes já que, numa sociedade capitalista há padronização, especialização, centralização e sincronização, portanto nos dá uma idéia de que o homem é uma parte para o funcionamento do todo, e não como uma parte independente, um ser necessário a si mesmo, logo, autônomo. Ele faz parte, então, do processo de funcionamento do sistema capitalista. O que não difere neste ponto do sistema socialista que também abomina ao homem que se “afasta” do outro. O que amarram esses dois sistemas em suas semelhanças é a moral judaico-cristã, tanto o capitalismo quanto o socialismo foram produtos de uma cultura ocidental cristã, com as noções de solidariedade, retidão, obediência, moralmente confiável, não havendo, portanto, um lugar para o homem forte, autônomo e que possa ser senhor de si.

“obriga o individuo, na medida em que é envolvido no sistema de relações de mercado, a se conformar com as regras de ação capitalistas. O fabricante que permanentemente se opuser a estas normas será economicamente eliminado, tão inevitavelmente quanto o trabalhador que não puder ou não quiser adaptar-se a elas será lançado a rua sem trabalho”
(Max Weber. A ética protestante e o espírito capitalista. pg 186 )


Aos poucos a civilização foi tirando do homem àquilo que lhe era mais caro, sua inconstância, sua liberdade, sua força, portanto senhor de inquebrantável vontade. Para criar um animal domesticado (educado, culto), constante, confiável, útil a sociedade. Foi com a moralidade judaico-cristã e suas idéias de civilização construídas ao longo dos séculos com as formas de castigo e crueldades que o homem deixou de ser indivíduo e se tornado um ser social.

O nascimento da civilização se dá a partir então dessa necessidade de criar um homem que pudesse fazer promessas. Os valores, como podemos perceber, estão ligados a história da humanidade que se verificam a grande utilidade do pensamento de Nietzsche não só para a filosofia, mas também, para os estudos sociais, históricos e psicológicos. E os “melhoradores da humanidade” se incubiram se de amansar o animal homem a fim de poder construir um mundo de homens prontos para a cidade. Nada poderia ser formado sem uma, dívida com uma “força superior”, foi nescessário segundo Nietzsche, uma força, uma vontade forte, porém reativa.
Ao contrario, o homem moderno não é individualista, pois este interiorizou tal forma as normas que passaram a ser biológico, como uma herança biológica. (§ 199. ABM).

Como procurei demonstrar, para o Nietzsche foi necessário formar um tipo de animal sui generis, o homem através de formas cruéis de interiorização dos instintos do homem selvagem e independente para se criar uma civilização, e esse processo deu lugar a um homem, com valores morais novos, sem o individualismo de outrora. Para Nietzsche a vontade de poder é o mais importante instinto, uma força plástica (dá forma, esculpi o verdadeiro “Eu animal”) O individualismo foi aos poucos sendo minado, por uma serie de métodos selvagens. De qualquer fora, formar uma sociedade é antes criar um homem gregário, dependente do outro, adestrar, para isso as normas é uma maneira de preservar seu adestramento.


Bibliografia:

NIETZSCHE, Wilhelm Friedrich. Genealogia da moral, uma polêmica. Tradução e notas de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das letras, 1998.

NIETZSCHE, Wilhelm Friedrich. Além do bem e do mal, prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução e notas de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das letras, 2ªed, 1992.

FREUD, Sigmund. Seleção de textos de Jaime Salomão. Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. São Paulo: Os pensadores. Abril cultural, 1978.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito capitalista. Seleção de Maurício Tragtenberg. Tradução de M. Irene de Q.F. Szmrecsànyi e Tamás J.M.K. Szmrecsànyi, 2ªed. São Paulo: Os pensadores. Abril cultural, 1980.

18.1.07

O Patafísico


Não sou um fim
Nem muito menos um começo
Sou saborosamente um processo
Um monte de erros e acertos
Um Zeraduscht aos avessos.

Mulheres chamam-me de inútil
Não sou inútil
Sou apenas a ciência das soluções
imaginárias
Como um Júpiter que tenta justificar
hipóteses absurdas
Como um Queneau
Um Rodin.

Meu jeito de ser demonstra meu caráter
original e heróico
Não desejo ser o preferido
Nem culpo ninguém
Mas sou a mirra para embalsamar
os mortos.