21.8.06

(Re)encontro

Passei por ele para que me notasse: fui notada. E recebi o seu olhar como quem recebe flores. Vi o seu sorriso sincero e triste e suas mãos ainda pequenas, mas não tão leves como ontem; calos e não carícias, elas exprimiam, e, ao tocá-las, percebi o tempo que se infiltrou entre nos. Constrangimento e distância... é o que sobrara. Era Sábado. A manhã já havia como tantas outras manhãs de março... e nos, desiguais, estávamos um ante o outro, violentados por nossa presença, tolhidos de nossa espontaneidade. Cumprimentamo-nos decerto, se é que aquele atrapalhar-se pode ser considerado um cumprimento. Beijo, abraço, qual o comportamento devido? Por nossa situação, tínhamos que perder a força do hábito, e nossos corpos – outrora de tantos contatos e poucas censuras – tinham que se manter afastados por mais que estivessem dispostos ao prazer. Inclinados um para o outro cessamos o movimento de nosso corpo. Ele sorriu mais intensamente nesta hora, timidez e embaraço. Sorri também embaraçada. Não sabíamos o que fazer: demoramos as mãos, um aperto de mão demorado e sofrido, e, acanhados, sorríamos como quem tem muito a dizer...